quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Meus Demônios

Mais uma noite eu preciso acalmar meus demônios
Sangrando culpa pelo ofício da escrita
Em cada orifício meu me ocorre esta maldita
E eu tento amargar suas manchas com amônio

Contudo, cada marca é profundamente aflita
Sânscrita com fonemas em meu corpo
Sou enfermo por excelência da vida
É mais que sintomático todo este desacordo;

Eu e a mesma sintaxe repetida,
Da complexidade ao estudo do que é escroto
Aqui é onde toda procura [minha] fica retida,
Já não há mais tinta para tanta ferida,
E Mesmo assim o verso continua seu comboio:

-Assegurar a mais prolixa condição para o desconforto.

Por vezes, dói apenas estar vivo
Pois me sinto perseguido neste hospício
São tantas palavras masturbando meu vício
Que

(...)

Eu sou meu próprio manual de autosacrifício.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Relapso Fonético

Uma noite de poemas sórdidos
Onde toda tragédia seja revista
É o que peço com bons olhos
Para minha existência desmedida

Contudo a escrita me foge aflita
E eu não tenho mais versos em meus sonhos
Apenas sangrias a se perder de vista
Reconfortam meu vocábulo impetuoso

Eu nego os vermes da minha língua
Com os mesmos pronomes em primeira pessoa
Sem quimeras, somente uma linha que ecoa
Enfermidades em meu corpo cheio de verdades.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Mesma Lápide Ainda Sangra

Antes mesmo de adormecer
A fobia destes olhos
Encarcera-me de modo abissal
Tal qual A morte de Abel
Descrita num quadro vertiginal
De paisagens ocras.

E deito-me neste leito
Generoso ao fracasso
Ante o céu e suas pragas
Vejo-me escondido
Vejo-me esquecido
Repetido entre as lacunas
De dias não existidos.

E pelas córneas trêmulas
Uma noite denuncia suas verdades
Aos prantos atiro lâminas
Ofuscando veias gastas.

Então divago,
A porta entreaberta
O cadáver putrefágico
Um destino trágico
É a sina do poeta.

Abro o livro dos fracassos
E As palavras purificam-se
Cada qual por si só
Como um castigo premeditado
Estátuas de sal
[Compactuando]
A beleza natural
Dos erros de Gomorra.

Poema antigo, escrito lá pelos idos de 2006.
Não lembro a data exata, pois penso -humildemente- tal qual Quintana: "Teus poemas, não os dates nunca..."

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Diffindo Angustia

O antônimo da minha solidão
Reside no vazio de cada instante,
Pois, se o presente já é a extinção,
A temporalidade é oblíqua. E obstante

Faz da sofreguidão a consoante,
Que entoa certa lucidez errante,
Entre a memória lúgubre e amoral,
O meu agora sofre úmido e sem final,

Quando o tempo torna-se lúdico,
E eu respiro o tormento pudico,
De cada pensamento que tento verbalizar,

Contudo, meu caminho continua lívido,
E cada demônio reside aqui, vívido,
Pois a angústia pura não se pode simbolizar.

Aspectos

"Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco."

O vazio pretenso à existência
Diz como me registro deslocado,
Neste mundo cansado da ausência,
Onde fulgura incólume o desfigurado
Aspecto antropofágico da urgência,
Que alimenta mais este verso apagado.

Oferecendo as carnes minhas ao descaso,
Pois, tenho certa doença intelectual,
Que se desloca pelo sangue oco e esparso,
Em busca de mais algum escrito residual.
Eu costuro virtudes neste léxico cansado,
Tentando fugir da desgraça poética proposital,

Que aplaca meus dias dialeticamente fugidios.
Será o Real apenas face da Primavera e seus vestígios?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Do ato de [d]- escrever

A partir do momento que me descrevo já não sou mais o mesmo. O discurso torna-se endêmico, refém da fala e também seu amuleto. Eis um aspecto da destreza que há na beleza da humana condição: ser paradoxo para a sinfonia e a dialética da contradição!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O Problema de Três Estrofes Simbióticas...

Veemente, dedico meus versos ao descaso,
Pois estar vivo é estar ao acaso,
Da realidade antropofágica intangível,
À angústia de pensar o indizível,

Em mais este punhado de pragas ausentes,
Costuradas à sombra dos Deuses descrentes,
Que enfatizam, abruptamente, a falta,
Elaborada com o sangue da tristeza incauta,

Carregada pelo universo aqui descrito,
Repetindo a fórmula do fracasso restrito,
A mim e ao meu espelho exaurido...
Afinal, eu escrevo por não ter sido.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Jorge Luis Borges



Soy los que ya no son. Inútilmente
Soy en la tarde esa perdida gente

Sou os que já não são. Inutilmente
Sou em meio à tarde essa perdida gente

Existem versos que eu realmente gostaria de ter criado. Porém, deixemos a genialidade para os gênios.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Flectere si Nequeo Superos, Acheronta Movebo

Flectere si Nequeo Superos, Acheronta Movebo

Eu legitimo minha posição neste mundo,
Olvidando-me nas sombras do acaso fecundo,
Destas teorias que crio para a eterna busca,
Para a eterna fuga de minha tragédia Etrusca,

Pois sou, afinal, aquilo que não é
Talvez tenha sido onde não existi,
Carrego a maldição de Sísifo com fé,
Se minha alma é atemporal eu me esqueci,

E nas melodias da Primavera busco retidão,
Cravando o inexorável Real com rouquidão
Nestes passos tortos, que já não merecem atenção,

Pois o funeral da minha escrita é decorrente
Da mesma repetição maldita, apócrifa e descrente,
Eu respiro a antítese da vitória. Molestado e doente.

domingo, 4 de outubro de 2009

Notas Sobre a Condição Humana

Notas Sobre a Condição Humana

A tristeza desta sala não tem nome
Ela apenas existe e corta conforme
Meu corpo sem signos se dissolve
Entre os tecidos que a distância envolve

Dos dissabores que a poesia fúnebre promove
À falácia humana que somente comove
O Corvo, Os Doentes e seus contornos
Sem corpo, eis a Ausência e seus transtornos

[P O I S]

O constructo da verminologia que proponho
São versos grafados com o sangue risonho
Da minha duplicidade estreita e necessária
Eu já não sou mais nesta escrita presidiária.