sábado, 30 de janeiro de 2010

White Walls

Eu respiro o mundo procurando-o n'alguma falha,
No acaso fecundo de tantas veias mortuárias,
Além do gênero e do desespero em cada talha,
Busco rigidez nas distrações presidiárias,
Da ambivalência rude e procrastinada,
Ao signo rouco da saudade predestinada,
Eu brindo o nódulo em meu lóbulo, e adoeço,
Pois, o fim é sempre [e apenas] um não-começo;


Postando, com certa dificuldade, do hospital.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Canção para Leviatã

A apatia dos meses abatidos,
Torna meu festim leucêmico,
E de todos os demônios distraídos,
Este certamente é o mais endêmico,

Afinal, sou a sombra abissal
Das contrariedades dissolutas,
Faço da poesia doença terminal,
Para, enfim, buscar formas absolutas,

E entregá-las ao repetido pedido da dor,
Que procura na [minha] fisiologia incolor,
O traço atrasado e sem graça da exumação,
Pela Linguagem imposta, feito celebração,

À melancolia, que finda o sangue tortuoso,
Deste festim sem fim e pouco espirituoso.
Pois, ao ignóbil infinitivo de existir,
Eu ofereço minhas entranhas, sem resistir.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A Arquitetura do Caos N'um Devaneio Vespertino

O meu esqueleto é furtivo,
Foge da dor de ter existido,
Sob a esfinge do tempo detido,
A Realidade torna-se mero atrativo,

Para o transtorno, oblíquo ao destino,
Por hora evito o convívio em desatino.
Apenas Eu e a solidão ocre-vociferante,
Companheira ideal para a ferida do instante,

Um brinde ao vácuo e a liquidez neuronal,
Eis minha proposta para a égide infernal,
Do reducionismo que congrega minha rigidez,
Aos espíritos sem luz que me oferecem frigidez,

A simplória espera é mais que espera,
Torna o verso duro e o sangue escuro,
Pois, minha condição reitera,
A Derrota que tanto procuro.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ode a Elegia

Da Posse de Ontem à estiva na alma,
Aquilo que me corrompe é o trauma,
De existir entre o corte e a poesia,
De responder à paisagem com afasia

Pois, da cinesiologia gasta e apática,
Aos espasmos do meu rosto em desalento,
O que prevalece é a fórmula drástica,
Dos meus sonhos trêmulos ao relento,

E, uma vez mais, encontro o pior de mim...
Quando o sorriso assombrado reflete no marfim,
O sangue que segue envenenado à exaustão...

E o solilóquio que havia pretendido,
Jamais poderia ter [sequer] existido,
Pois o erro do Poeta é sangrar sempre em comunhão!



“... Todo poema, com o tempo, é uma elegia..."
Posse de Ontem. Jorge Luis Borges

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O Poema Fantasma

A paramnésia concomitante da saudade,
Frasco a frasco me apaga desta cidade,
E este punhado de memórias retalhadas,
Reflete, distorcido, as derrotas entalhadas

Que trago, ausente, em meu peito.
O pleito daquilo que não é, e o efeito,
Da amnésia à que fui resignado,
Refratam apenas o signo sujo e estagnado,

Dos Méritos que pude e não tive,
Das minhas noites rubras em declive,
Dos lugares que eu fui e não estive.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Um Ínfimo Pedido

A catarse de memórias não dissolvidas
Que envolve minhas mortes mal resolvidas
Traça traços esparsos de dor exumados
Das notas do dissabor aos sonhos enterrados

Eu procuro não ser mais que meros pedaços
De saudade sem sangue jogada entre espaços
E espasmos de realidade. A real idade
Da minha sombra encontra a felicidade

Disforme no sonho risonho que conforma
E corrobora a derrota sempre em reforma
Dos passos que trilho pelas conjunções
Conjurações ríspidas da vida e suas distensões

E sob o véu velado do verso rasgado
Um ínfimo pedido atrelado e engasgado
Ao meu corpo sem gosto jazido na imensidão
Uma dança entre vértebras e rimas que brinde a escuridão.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Perdidit Antiquum Litera Prima Sonum*

O que eu peço é um verso enochiano
Para que possa, entre sombras, atrelar
Cicatrizes profundas na linha rubro-jugular
Do meu solilóquio confuso e paulistano

Pois, existo apenas dentro de mim mesmo
Uma espécie sóbria e indecisa de reclusão
Que tento a cada verso não deixar a esmo
Mas meu fim é sempre o odor dolorido da repetição

Consistente que externo osso a osso
Procurando poesia-morte fosso a fosso
Do meu olho anômalo e mal projetado
Ao mau agouro nômade que trago atado

Nas notas de rodapé da minha essência
Eu verbalizo a falta por excelência
E, novamente, cometo o acometido assassinato
De oferecer à Poética meu simplório orfanato.

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As antigas letras perderam seu primitivo som*

Primeiro poema do ano.