domingo, 28 de fevereiro de 2010

A Anomalia do Poeta Anônimo

A monarquia da desgraça congrega seus emblemas,
Quando descrevo com fervor todos meus problemas,
Da tristeza incidente a esta solidão eficiente,
Eu atesto a clarividência singular-deficiente,

Dos meus atos dissecados, que arranco da jugular,
Coincidentemente, com a saudade que fica a julgar,
Tantos passos esquivos, ressecados à exaustão,
De navegar a doença do meu rosto sem expressão,

E, nestes dias, catastroficamente incompletos, confesso
O maior crime dos séculos, da indulgência ao retrocesso,
Defino, pois, o espectro do meu aspecto poético:

- Um signo cadavérico para cada derrota consumida,
Para cada lápide [adormecida] que adorna minha ferida,
Transcrevo-me. Submetido a este autodestrutivo fulgor esquelético.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O Festim Macabro

O Festim Macabro
Ou sobre como seria mais um poema abortado


Eu sinto as pedras de Sísifo assombrarem meu espírito,
E tento, em vão, significar o Horrível para senti-lo,
Do festim macabro ao tremor litúrgico-empírico
A admirável veemência do Nada aplaca-me com estilo

E, eu não existo além da carne nestas linhas,
"É apenas a essência negativa de tudo que tinhas
Poeta, agora cultive esta erva daninha e sofra"
As palavras roucas de Mantícora esperam que eu corra,

Mas não, aceito esta antropofagia intrusa e dispersa,
Pois, sei que minha essência é pior que a fábula persa,
Tal qual os treze estágios de Hades, eu deixo minha esperança,
E corro sem ossos cantarolando o canto escuro da matança,
De todos os sonhos à que concorri.

- Simplesmente esqueci como faz pra sorrir.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Versos Para o Purgatório da Vida

A marcha fúnebre do meu coração ecoa,
Entre a tristeza crua e desmedida,
Que fere a posteridade da minha partida,
E faz sangrias na Realidade que entoa,

Mais que a sífilis destas tristes melodias,
Mais que a repetição envenenada dos meus dias,
O vazio pretenso ao asilo da existência,
Fomenta o purgatório de tantas noites sem essência,

Quando Eu assisto a inefável destruição da Vida,
Costurando o eco das minhas lástimas na ferida
Que adquiri junto ao tempo, do Caos invicto
A instância da dor, meu dissabor é convicto,

Se a romaria doente que me segue com louvor
Definitivamente aplacar a espera pela eternidade,
Talvez este vácuo no peito seja uma espécie de felicidade,
Pois, é na obscuridade úmida do Fim que busco calor.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Um História Assombrada

A alteridade dos meus sonhos é nivelada,
Pois a tristeza cansa ao ser revelada,
Da exaustão tácita reclusa neste obituário,
Ao sufrágio do erro sem vestuário,

Dedicado em doses de eloqüência fúnebre,
Um brinde seco, sem aplausos e lúgubre,
Para tantas histórias cruas e atormentadas,
A fórmula gélida das epopéias execradas

É o resultado da invalidez desta abominação,
Que, monstruosamente, carrego sem pretensão,
Pelo signo antropotrágico da derrota,
A minha insuficiência é o vértice que abarrota,

A glória que um dia quis respirar,
Além do crepúsculo que insiste em assassinar
Toda insistência na esperança sem densidade,
Novamente, a minha maldição não tem idade.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Another Side Of The Same Darkness

Eu compeli madrugadas vagas
Esperando o sinal atortoado da verdade,
E por mais que fuja de tantas pragas,
Minha solidão não tem idade,

Corrói os edemas e todos seus emblemas
Aglutinados em meu intelecto disperso,
Pois, sou sempre o maior dos problemas,
Na repetição da penumbra em meu verso,

E é sempre sobre a falta que escrevo,
Sobre a incauta ausência em mim mesmo,
A falha é a doença estrutural que prescrevo,

Em mais um final sangrado a esmo,
Retalhos e lápides sem um único desejo,
Para a condição aflita da vida qual descrevo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Um Lucivelo Na Razão (?)

Eu passarei a eternidade em luto,
Pois meu medo foi mais astuto,
Reiterou o estatuto sem validade,
Da carne sem cor em minha felicidade,

Que no leito apoia o solipsismo
[Lapsos de saudade com raquitismo],
Em meu psiquismo [atormentado] incongruente,
Sobram as sombras da cova intermitente,

Deste meu sorriso de ataraxia ressecada
Que promove aplausos para a escuridão,
Dos meus sonhos de causa dissecada
A este punhado de versos sem exatidão,

Mais um caixão para a existência desmedida,
Mais uma história que estanca sem ferida
E os velhos erros sempre a postergar,
O final furtivo que escolhi, com calma, costurar
[em mim...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Nec Plus Ultra

A dor deste verso não vem do peito,
Caminha, fantasmagoricamente, entre as alcovas
Da minha alma, onde o declive é estreito,
E a ausência faz seu pleito; traz dores novas,

Para o quadro fugidio e molesto,
Que apresento, sublinhado e modesto,
A este mundo necrosado e sem critério,
Onde sentir é consentir a beleza do cemitério,

E para cada hora, enterro uma derrota,
Em meu braço o abraço do Negativismo Existencial,
Pois a repetição, como sempre, está exposta,
Na Leucorredução de minha ciência artificial,

Então Eu lamento o sentimento dissolvido.
Nesta nota triste me esqueço para ser esquecido,
Das sobras de teorias gastas e em putrefação,
Faço vistas à esperança de assimilar a castração.