terça-feira, 29 de junho de 2010

A Morte Sem Voz

A discrasia comanda os fantasmas destes retalhos,
Com asma anuncia a liturgia do meu fracasso,
Pois, da necessidade aos signos falhos,
É a vontade vencida que verte o sangue escasso,

E quando o dia nasce arrependidamente rendido,
O gosto esquecido de saudade [vivida] cria dimensão,
Assim, a eternidade torna-se o limiar perdido,
Frente à assinatura do Caos que encontra redenção,

Nos braços de um Dionísio especialmente ressecado,
Nos órgãos umedecidos daquele sacrifício ofertado;
E a minha sina segue pregada nestas contrações,

Afinal, para todas as dores sempre há uma maior,
Em todas as cores sempre há um tom menor,
E para as sombras... A mais bela das maldições!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Um Canto Para Serápis

Eu revisto minha mágoa com este cemitério
Que propaga [erradico] a prosódia do desapego,
Nestes sonhos estrangulados reside o sossego
Para a homeostasia falida Deste hemisfério,

Sem coagulação o meu anseio corre vencido,
Da órbita maldita destas covas sem extensão
Ao lupanar viscoso que assassina minha intenção,
O cântico fúnebre prossegue. Precoce e amanhecido,

Pois, a madrugada é túrgida e vaza deste peito,
Tal qual a fleuma que corre para o leito,
Quando o corpo enfermo insiste em simbolizar

A profusa relação entre o desespero e o desejo,
Que atesta o desamparo como virtude ou ensejo
Para a impossibilidade que eternamente ei de carregar!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A Casa das Almas Perdidas

Aprendi com minhas perdas
O valor das palavras não ditas
E por entre todas as minhas feridas
Turbilhões de melodias destoam o sangue
Da carne, da posse, da vontade lúgubre
Eu respiro porque não pude
existir além
Destas linhas destoadas e fúnebres.

A maior glória desta vida é, de saída,
Costurar o passo triste na avenida
E concatenar cada falha com uma rosa
Esquecida
Entre o verso e aquela ferida
mesma
que diz o que não pude
Que repete amiúde
Aquilo que morre. Sem ser rude.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Dos Quatro Pretéritos

Eu abandonei minha morada indigesta
para acompanhar o cintilante gosto do crepúsculo
quando este hiato impróprio é o que resta
das velhas posses deixadas no escuro,
Os meus desejos falecem inóspitos e surdos
pois aquilo que trancava-me morreu.
o fosso, o abraço, o rosto que cedeu
aos ditames vociferantes do Tempo,
neste templo de memórias roucas
os meus ossos tangem obliquamente às poucas
vozes toscas que acenam para o descaso
sem caso, que grita vontades ao acaso...

Eu apenas poderia ter sido e não fui.

domingo, 13 de junho de 2010

Uma Conversa Entre Gregor Samsa e Mefistófeles

Sob a esfinge da Ausência, a transformação,
Morcegos secos que tangem a aflição,
Do estigma anacrônico destas vistas
A Peste que degrada todas minhas conquistas,

O meu panteão é mimeticamente anêmico,
Pois degrado tardes com o sabor endêmico,
Da falta recombinante que transtorna ilesa e mitigada,
O meu dissabor, veementemente fria e fatigada,

E eu não sou além desta vontade vomitada,
Desta carapaça fantasticamente ultrapassada.
Mil medos postergados e mais este corte,
Um abraço censurado para toda a minha sorte,

Assim o dia degrada feito poesia morta,
Para cada hora sepultada eu rasgo uma aorta,
E prossigo com o fúnebre pesar destas liturgias,
Eu ressalto a catástrofe de espreitar minhas elegias.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A Arte de Não Ser Proeza Alguma

A arte de não ser proeza alguma
Feito poesia suja entre teus nervos
É assim que sinto quando descrevo
O fato e o descaso vestidos de negro

Em meus versos sem alma
Onde a distância sabota a calma
E eu acabo alimentando meus medos
Com a volúpia da incerteza e seus segredos

Procurando algum sentido em notas de música oca.

(?)

*Poema presente no livro "Poemas Noturnos". Todos direitos reservados a WAF Editora e Samuel Malentacchi

sexta-feira, 4 de junho de 2010

E Foste Assim A Minha Morte...

E foste assim a minha morte
sangrei mil flores sem nenhum corte
deixei o enredo do convívio aos gritos
lamúrias cristalinas para todos estes ritos
sem vértice, da minha calma asfixiada
nove palmos de solidão glorificada
para a antonomásia desta existência
desmedida pelas melodias da clarividência
da frustração que carrego entre ventos
entre peitos sem brônquios, entre tantos acentos
Eu apago a ausência de dias oblíquos e sem acertos.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Entre as Ruínas da Carne

Do Eros pandêmio a esta ânfora,
A dialética que prevalece é a da âncora,
Desta Pandora Afogada e reminiscente
Onde a inumanidade revogada é insuficiente,

Frente à foice fria e espectral,
Que a cada corte posterga meu final,
Pra angústia que convalesce interpelativa,
A monstruosidade é fugidia e apenas relativa,

Pois, o sorriso-trauma transtorna minha poesia,
Conflitos tantos a transformam em afasia,
É quando meus sonhos morrem sem extensão...

E o fim atesta o que poderia ter sido,
Eu sangro, vísceras ao chão, eu sou esquecido,
Afinal, propago versos com cheiro de convulsão.