domingo, 24 de outubro de 2010

A Filosofia dos Túmulos

O genocídio destas sombras sem reflexão
Enruga as ruínas dos meus rasgos,
Do pretérito em sua plena assombração
Ao entrave congregado entre espasmos,

A angústia fulgura o gesto espectral
De dias-escamas dedicados ao abismo,
Que há entre a existência e o raquitismo
Deste lirismo lúgubre, túrgido e amoral,

E nas minhas tramas, linhas infames pululam,
A ineficiência e a paura apenas congratulam,
O erro atemporal dos meus artigos derrotados,

Uma vez mais minha vontade eclode abortada,
-O mesmo prágma, a mesma vicissitude cortada-
Para o encontro [mesmo] com a solidão dos afogados.

Das Vontades Proibidas

Mesmo que o mar morra de fome
A embarcação segue insone,
Rapsódias intencionalmente dedicadas
Concatenam tantas virtudes homéricas,
Entre vontades proibidas e histéricas,
Lancinantemente um nome congrega a astúcia,
A vontade [absurda] de possuir-te. Sem pronúncia.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Um Punhado de Versos Fúnebres Para Josef K.

O eco dos dias tem o mesmo nome
E a mesma insígnia como maldição
Quando o que resta é a degradação
De tudo aquilo que, em mim, não dorme

Eu transformo o transtorno em noite
Dialogando com a apatia magentamarelada
A cada [g]rito uma nova e indigesta morada
Assim prossigo. Inerte após mais este açoite

Cada traço meu é hediondo por natureza
Apregoa as mazelas que corroem com destreza
Tudo aquilo que sepultei junto ao vento

São tantas mágoas costuradas sem enredo
São tantos vermes nesta carne sem segredo
Que, uma vez mais, eu apago meu intento.

domingo, 17 de outubro de 2010

Soneto Antigo

"Que solidão errante até a tua companhia"
Pablo Neruda


O eterno se faz inerente
Quando me perco dos meus ossos
Em minha escrita indecente
Tento decifrar-te sempre que posso,

Pois cada traço, cada vertente tua
Corre em mim, descreve e perpetua
A vontade de sentir o gosto
Do teu rosto de encontro ao meu rosto.

Eu, você e o verão já rendido,
Rompendo as veias do destino,
Deixando o tempo rouco,

Sem pronomes e lâminas, o corte sofrido
É no peito, não sangra, mas faz sentido,
Assim como estes dias sem sono!

Poema antigo, já disse muito. Hoje ele é um ótimo ouvinte.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Exumação de Todas As Minhas Mortes

A hidrólise do meu coração é insensata,
Busca síntese no vazio desta melopéia,
Pois faço daquilo que falta epopéia,
Para a derrota atrofiada em minha fragata,

E assim sigo póstumo e naufragado,
Da sombra incólume dos meus atos
Ao sufrágio que rogo a todos os tratos,
Não há limítrofe para aquilo que nasce estragado,

Quando a melancolia plena faz residência,
O meu sacrifício é apenas a reincidência
De tudo o que afoguei sem embalsamar,

Tratando a dor como exoesqueleto em ruptura,
O desejo ínfimo é que corre sem captura,
Pois a decomposição é minha aurícula particular!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sobre a Perversidade e seus Hematoversos

A lâmina cega da minha vontade
Fraciona o medo [já] postergado,
E a cada novo sonho congregado,
A aflição plena da alteridade
Produz o mesmo estrago,
Um estágio entre larvas
Para o meu olhar gago.
Inaptidão, onde estavas?

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Entre A Sociopatia E A Filosofia Dos Não Valores

A sístole organizacional dos meus dias
É efêmera, busca retidão na falta primeva,
Quando a epístola espectral diz: "escreva",
Eu tento ser uma vontade de duas vias,

Tal qual a estória apócrifa que enseja
A epistaxe desta saudade vermicular,
Para além do Vale dos Condenados a torturar
Está a humana condição que deseja,

Por fim, a diástole eterna do sepultamento
Da alma, um conforto para todo o excremento
Carnal que carrego... Eis o segredo da minha maldição,

Caminhar entre o convivício social,
Ter que respirar o apelo dessa gente boçal...
Afinal, a única beleza do mundo, para mim, está na putrefação.