terça-feira, 29 de março de 2011

Uma Carta Para Julliete Cell

A minha escrita é crua
Dança o gole da vertigem
Que os ditames do silêncio exigem
Conquanto a verdade en-si-nua

Este ossuário praticado em miudeza
Atrelando à alma apenas a pergunta
Da caosmogonia que não -mais- junta
O signo prevaricado e sua frieza

E eu admito ser em ti a catacumba
Daquilo que foi um dia profilaxia
Para a apatia que hoje asfixia
As reminiscências que dormem sem tumba

Eu espero o mesmo sorriso anêmico
Daquela moça que um dia me apagou
Do seu diário, pois apenas sou
O ensejo inócuo, mitigado e mnêmico.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Pequenos Apontamentos de Guerra para uma Tarde Estranha

Estas linhas tortas descrevem estigmas
Feito enigmas pulsando das aortas
Eis que traço um traço descontínuo
Que diz como minha alma se comporta

Batendo à porta da efemeridade
As normas rogam junto ao vento
Pois eu vendo a enfermidade das formas
Deixando a boa tristeza ao relento

Então surge a melhor das propostas;
-Viver sem pensar nas respostas.

domingo, 20 de março de 2011

Bilhete Para Epitáfio Outonal

Eu me recolho à aurora
Desta fraqueza insípida
Quando a impossibilidade
Descobre o rubor das memórias
E recobre a inocência
De dias rasgados na história
Com o pudor das rosas
Escondi o Outono aqui dentro
E pedi uma navalha sem corte
Para tentar, sempre em vão,
Desatar de mim a tristeza
Mas, como sempre, eu saboto
As minhas fugas de mim
E acabo sempre com as rusgas
Do musgo anêmico de mim mesmo.
Mais um antagonismo indiferente
Não muito provocador, feito névoa
Mais algum reflexo, alguma dor
Que valha o peso de estar vivo.
Mais algum predicado enfraquecido
Pelas asas ferozes do Tempo
.
.
.
Os corvos nunca trabalharam tanto.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Lamúrias

Eu expiro meus medos em hematúria,
-Do plasma aos leucócitos gagos-
A ausência, a verdade e seus rasgos
Tornam deprimente o clamor desta centúria,

E assim o sepulcro segue ileso,
Ressaltando o odor da impossibilidade
Que aplaca a existência com ubiqüidade,
O caminho segue. Vazio e indefeso,

Em minha sina, a crista de Aym,
-Suas três cabeças conduzem meu passado-
Eu sinto o veneno da víbora encarnado
Em minhas hordas infernais. Outrossim

As três conjurações salomônicas escoam
A escuridão da minha virtude atrapalhada,
Dos setenta e dois selos à tristeza espalhada,
Os mesmos erros conjurados se amontoam

Entre pilhas de índoles adoecidas,
Mais um crepúsculo vertical e sem gosto,
Penosamente engordurado, deglutido e aposto.
Assim todas as minhas perdas são oferecidas

À Balaam e sua tríade terrivelmente selada.
A voz rouca dita o que poderia ter sido,
[Quarenta legiões encarnadas no não acontecido]
A goetia de Lemegeton legitima a falta promulgada.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Clausura II

O ostíolo da impossibilidade afoga minhas sereias
Neste dilúvio de incertezas vistas de longe
Da réstia enforcada dedicada ao monge
A sombra intermitente d'aquele Nome nas areias

Nem a prece, tampouco a liturgia constritiva
Aplacam o fulgor da distância em procissão
Uma vez mais a vida sabota minha condição
Sigo entre a plenitude do Caos em comitiva

E na melodia deste inferno celestial
Busco algo além da construção bestial
A contaminação do traço que ilude a abadia,

Para os medos profanados não há pronúncia
Apenas a subordinação de Yama e a renúncia
Pois o laço das almas é a [minha] estadia.