quinta-feira, 28 de abril de 2011

Os Nove Círculos do Desconforto

Deixai toda a esperança aqui, ó vós que entrais
Dante Alighieri, Canto nº3, livro Inferno

A abadia sacrílega que resguarda,
Com sangue, as minhas reminiscências,
Encontra clamor nas quase-providências
Da angústia atemporal desta farda

Que veste a outorgada aflição
De mais este tomo exotérico,
Uma espécie de ópio esférico
Obliterando o amor em inanição,

Assim enterro a preterida esperança,
Sempre em fuga e sem herança,
Pois existo sozinho neste inferno

Onde o meu intento é derrogado.
Em seu lugar há um deus afogado,
Enterrado sem caixão nem terno.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

de.gener[o]a.tivo



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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Um Passeio Pelo Niflheim

Hel, filha de Loki
em sua eterna vigília
assiste os mortos coadunarem
suas fraquezas em matilha
colorindo o reino subterrâneo
com suas cascas insones.
O sopro rouco conclama
a procura protelada e estranha
por um lugar no Valhala.
Não há mais espera que valha
esta eternidade sem entranha
condizente com a [intermitente] falha.
Folhas celestes da Groelândia
-escambo de neve turva-
há um nome nesta curva
que estupidamente traz infâmia;
A incerteza da vitória
-para ela não há enterro-
denigre a plenitude de Odin.
E [eu] espero nesta porta assim:
vestindo mais de mil oportunidades outonais.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mal-Estar Paulistano

Eu corto meu corpo em misantropia
Uma espécie de rouquidão soberba
Que atraca a larva sem emblema
Deste vazio outorgado em harmonia

Com o desastre dos dias traídos
Que repeti em minha nulidade.
Do desconforto que perfaz a cidade
Ao clamor de todos os amores vencidos

Eu repito aquele ritmo insepulto
Do escárnio que masturba o insulto
Pois eu sangro sempre o mesmo nome

As mesmas lágrimas glaciais-costumeiras.
É sempre a graça destas luvas rameiras
Que busco, em vão, a cada verbo disforme.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ocasionalmente Existo

"Erro: porque o distante não é o próximo,
E aproximá-lo é enganar-se."
Alberto Caeiro

Ocasionalmente existo.
É neste gosto amanhecido
Da distância que persisto,
Pois, sei, poderia ter sido

Entretanto eu não fui.
E não ser é insustentável,
Tal qual a noite que não flui
O rebanho segue inesgotável

Entre a névoa e o fulgor,
O engano esgueira sem odor,
Assim aproximo os tentáculos

Da escolha e do crepúsculo,
Da dor [sempre] em maiúsculo,
Ocasionalmente existo. Entrevernáculos.