terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Outsider

A minha batalha não convence
Tal como o riso de Demócrito,
Este mundo já não me pertence,
Sou a ineficácia sem óbito,

Não sofro. Pois sofrer é pertencer,
E em minha álgebra não há tangência,
A obliqüidade é a providência
Para a marginalidade de entristecer

Perante a estética do fragmento,
Seremos, então, o logro do sofrimento,
A bile negra da melancolia?

Não. Sob o átrio da maldade,
Arde, em vão, apenas a verdade
Estancada em instantes de embolia.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A Dor E O Desvio

"This thought is as a death, which cannot choose
But weep to have that which it fears to lose."
William Shakespeare

O poente está se expondo
Entre sepulcros e maravilhas,
São as mesmas fantasmagorias
Apontando para o crime hediondo
Do silêncio impresso em mármore.
A frialdade, que não designa,
Assimila o corte e persigna,
Esperando que o erro aprimore
E transforme a distância em saída,
Pois a razão, já esvaída,
Esqueceu as vias da coagulação.
Este é o hemisfério atordoante
Que substituo a cada instante
Marulhando minhas perdas em convocação.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Canção Para A Síndrome de Damastes

"A vida é noite: o sol tem véu de sangue:
Tateia a sombra a geração descrida...
Acorda-te, mortal! é no sepulcro
Que a larva humana se desperta à vida!"
Álvares de Azevedo

Das muitas mortes que tive,
Em nenhuma me detive,
Oh! Torpor juvenil a instigar
Volúpias e desejos tortos,
Um cotejo de olhos mortos
À beleza licantrópica do luar!

Corrompidamente exaurido, eu sigo
Um caminho solapado, sem abrigo,
Aproximando as sombras sem umbral
A toda misantropia promulgada,
A toda catacumba exasperada,
Adormecida em meu absurdo cerebral.

Roto, o sorriso já mitigado
É absorto por estar motejado,
Eis o hiato e seu papel,
Que faz do lupanar nostalgia,
Pois me desfaço em nevralgia
Poética, do pesadelo ao tropel,

Versificado tropel selvagem,
Serei eu a sua criadagem,
Imersa em paralelismos conjecturais?
Da pergunta hirta que revoga
Ao velho medo que afoga,
Continuam as mesmas dores imorais...

sábado, 7 de janeiro de 2012

Fuga Para Órion

Do resto que nunca esteve
Ao pudor das catástrofes pessoais,
Sombras são apóstrofes cardiais
Para a insatisfação que manteve

O hiato em meu solar.
A afasia faz do recesso
Epístola para o excesso
Desta forma lúgubre e vermicular

Que alimento com meus dias,
Destronados dias-placenta,
Aqui a vontade não assenta;
Abaixo o espetáculo das covardias.

O fim é, para o espectro,
Apenas convenções sem mistérios,
Quando desfaço dos hemisférios
Desta vida sentida sem cronômetro.