domingo, 26 de fevereiro de 2012

O Devir?

A arca dos meus sonhos
É feita de ossos,
Além de todos os esforços
Restam-me os gestos tristonhos

Da dor, Vertiginosa e escarlate.
Tal como o mármore exposto
Do esquecimento e do desgosto,
Sigo buscando algo que mate

A morte precoce desta tarde.
Da luz que faz alarde
Ao crepúsculo sem receptáculo

O impasse prossegue sua passeata,
Daqui até a inimiga, a eleata;
E eu? Permaneço [sozinho] neste cenáculo.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Um Pouco de Dor Em Versos Livres

"Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente."
Vinicius de Moraes


Não quero me limitar
a ser o que sou
-resto de alguém que não fui-
fluindo onde não estou

porque não ser entre ausências
é apenas insalubridade existencial,
quando o balaústre é confidencial
eu me enforco com as veias
[desta cidade rude

Assim perco a condolência
um pouco de indolência
Pois sou inocente
em minha indecência...

eu sigo o hiato dos meus passos
circunferencialmente apago
o trato que é fato, pois
não há mais volta.

Não há mais volta
não há mais... em volta
não há mais
não há
não
(...)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Fuga de Ítaca

"...não há navio para ti, não há caminho.
Assim como destruíste tua vida aqui
neste pequeno recanto, em toda a terra arruinaste-a."
Konstantinos Kaváfis


Pois da fuga arranquei a solitude
Nula e desfigurada do agora,
A ausência fantasmática corrobora
Com o abismo abarcado pela quietude,

O patíbulo que enforca minha virtude
Contribui para a degradação que revigora
A deplorável condição que nos explora
Feito feitiçaria. Eis a similitude

Entre minha tragédia e esta nau,
Mil léguas além da vida e o mal
Que atordoa a eternidade de um instante,

Estou preso na insuficiência pessoal
Dos erros praticados -aqui- em especial,
Nesta noite ímpia e interpelante.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Daquilo Que Se Repetirá

Procurei em mais de um grimório
O sentido da minha dor,
E a cada novo torpor
Concatenei com o desprezível e o ilusório,

Do verbo trêmulo ao tormento
Recitei a pior das conjurações,
Repetindo na carne as maldições
Que tornaram Cipriano o ornamento

O belo ornamento de Satanás,
Fiel depositário das dores do mundo,
Que das sombras abissais é oriundo
E que nestas sombras [mesmas] se perfaz.

Assim afogo o intento angelical
Com cânfora, sangue e verdades,
Estas são as minhas vaidades,
O meu gesto último e fatal.