sexta-feira, 27 de julho de 2012

Vas Insigne Electionis

"Uma ação não pode provir de um simples corpo."
               Henrique Cornélio Agrippa, o erudito

O resto, que já não é mais
resto, diz sobre o torpor,
Diana é a noite e o dissabor,
a Vontade acima dos animais,

o dragão verte-se com o veneno
próprio, a transmutação é evidente,
abaixo há o acima sorridente,
este é o espectro pleno

da morte que é vida,
o gesto putrefato é caminho
para a cova do mesquinho
arco que veste a saída

celestial do grande Trismegisto.
Assim segue a seguida flauta,
que canta a vitória, a incauta.
Aqui rasgo meu contrato com Mefisto.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Condições

Tal como Atlas cansado
e de braços roucos,
este sou eu aos poucos
deixando o mundo de lado,

não há mais tristeza,
não há, ao menos, ódio
nesta antítese sem episódio
sou apenas vazio e crueza.

As catacumbas seguem alterando
a beleza das encostas orientais,
eis o preço que Ptolemais
pagou por seguir sonhando.

A indulgência propala o asco
pelos sibilos da noite detestável,
busco abrigo na inalcançável
insignificância sem carrasco.



sexta-feira, 13 de julho de 2012

Três Vezes Menos

Eu estive em vários lugares,
mas nunca estive em mim,
a ausência é ausente assim,
tal como as sístoles ventriculares

ressecadas nesse meu ínterim.
Eu vou além dos meros pares,
escrevo sobre todos os azares
dilatando o azedume sem fim

da sordidez dos meus tombos,
eis o atestado para os rombos
deste vagar errante de Vrykolaka.

Do morto-vivo grego ao enredo,
vejo, não vejo e emparedo
a negação que não aplaca.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Retalho Fugaz

Eu invoco a injúria permissiva
-nesta noite turva e deliberante-
do excesso, aqui, neste instante,
pois a catástrofe é decisiva

e desfaz o estanque do detrito.
Entre a escória e a perdição,
esta é, novamente, a missão:
lograr o inominável em atrito

com a névoa que novamente ecoa
o meu nome naquela lagoa,
onde jazem tantos desejos afogados;

eu sigo remando as minhas dores,
para além dos meros abominadores,
eu continuo provocando olhares enojados.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Corte Lutíssono

Aventurei-me nesta manhã despedaçada
Entre parênteses existenciais,
Provando os goles sepulcrais
Do fracasso sem coordenada,

Estes cortes são originais
E salgam a minha enseada,
Da predição desenfreada
Às ficções longitudinais,

Eis o horror que completa
O vexame dedicado ao poeta
Que aberraciona as suas Musas;

"Necrofagia, velha amiga,
Venha, por favor, me siga
Até estas escoriações inconclusas".