sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Miséria Humana

Um rosto tragado pelo olvido.
O gesto desordenado na carcaça.

Eu escrevo sobre o que não passa:
O vazio que não pode ser preenchido.

O silêncio. As carnes. A escassa
Sensatez daquilo que foi perdido,

O grito nasce surdo e aturdido,
Pois o céu esqueceu que fracassa

Ao lograr a mortandade disforme.
A dor de existir, aqui, é enorme

E eu insisto apenas pela dor.

O olvido tragado por um rosto,
Um rasgo finado para o exposto;

Eu falho em ser o restaurador.

sábado, 22 de setembro de 2012

Um Passeio Fora da Alcova

Estar no inferno, às vezes, cansa,
Pois o gosto do abismo não ameniza
Tal estadia, afogada e indecisa,
(...) Eu sigo só nesta andança,

E a solidão, que não eterniza,
Não me convida mais à dança,
Esta é a verdadeira mudança
Que meu horror sofreu a guisa

De tantos, e tantos dissabores,
Na vida não há apenas dores,
Eis, pois, o ditame que complica

O comício da tragédia humana,
Na realidade, ela é quem engana,
Pois é a miséria que nos implica.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Graduação


"Digo que sou um homem, mas quem é o outro que se oculta em mim?"
                                                                                 Arthur Machen

O outro que é o igual
E habita as minhas grutas,
Com suas normas astutas
Torna o perder-se habitual,

As deformidades são brutas
E atestam o apelo factual,
Nesta [minha] condição monaural
Sou uno em mil lutas

Contra o inimigo que existe
Apenas em minha triste
Estrada rouca e claudicante.

O igual já não é similar,
Faz do pêndulo o pesar,
Transforma-me em mero praticante.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Labirinto Taciturno

O universo cabe todo
na palavra universo,
talvez não neste verso
que é apenas lodo,
puro fragmento, erro caolho,
nota aguda e dolorida,
da sintaxe à ferida
é apenas o restolho.
Pois, então, haveria,
além de toda cadaveria,
universo para a palavra?
Nos meus portões tristonhos
pinto os piores sonhos,
sou aquele que escalavra.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Uma Canção Para Erebus

Eu celebro o equinócio
do meu sorriso refugado,
através deste estragado
cântico sem negócio,

Erebus e a interpelação
em meu destino distante,
irreconhecível escrita errante
escurecida e sem extrema-unção,

do corolário vencido
ao hábito já distorcido,
a porfia não acalma;

há, em mim, este vazio,
[sólido, cortante e senil]
que enceno enquanto trauma.