segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O Segredo

Gostaria de ser assombrado
Pelo espírito de Quintana;
Mas o fracasso não engana,
Congratula-nos com seu cajado,

Da lápide sem recital
A esta primavera rubra,
Espero que Ela não descubra
A minha aptidão sepulcral,

Estou entre o impasse
E a carne sem enlace,
Sou a sobra dos anjos,

Não há prece salvatória
Para a condição crematória
De existir entre tantos desarranjos.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Solilóquio do Desencanto

O fascínio do abismo é a catapulta
Que imanta a degradação concebida,
Entre a sensação e a saída,
Aprisiona o jugo que insulta

Esta existência parca e confusa
Onde falta umbral à falta
Que promove a sombra da incauta
Rigidez das sobras de Medusa,

Não há decapitação neste calabouço,
Há apenas lâmina no que ouço,
Uma espécie de concerto no hades,

Assim, tanta dor faz sentido,
Pois me sinto sujo e assistido,
Tal como uma lápide sem grades.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A Caveira E O Calvário

Insuficiente é o rastro que
Teseu deixou nos meus dias,
Repletos de reminiscências e alegorias,
Um não-heroismo sem dique,

Corrosivamente austero e abalroado
Por derrotas tantas frente ao Olimpo,
Eis minh'alma e o garimpo
Da escuridão que habita este lado,

Os deuses adormeceram e eu
Continuo sendo o mesmo fariseu,
Entre a gólgota e a sinagoga,

A consternação agora é plena,
Segue a cruz e a gangrena,
O sangue das escaras me afoga.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Enquanto na Janela o Vento Ulula...

A obscuridade das palhas de Omolú
-Senhor da Doença e da Morte-
Dançou sobre a minha sorte
E, por ora, o gosto cru

Da noite assemelha-se a varíola.
A enfermidade carnal traz espectros,
Eguns que flertam com meus aspectos,
Deflagrando meu estado de fascíola,

Ínfimo verme habitante do íntimo
Da dor, da desesperança e do ritmo
Lento que desmembra a melancolia;

A madrugada conjura seus amantes
Enquanto estou preso nos instantes,
Tal como os que sofrem de feitiçaria.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Exumação da Falta

E do último resígno aviltado
Refiz a maldição da diáspora
Conjetural. Esta é a áspera
Tábua para o sacrifício procurado

No mal-estar prolífico que atesta
A peste escura e sem estrada,
-Que torna a alma empedrada-
A autofagia é o que resta

À síncope deste verso roto,
Que não dissolve o absorto
Cemitério dos erros pessoais.

Eu sou diferente do olvido,
Resido no que poderia ter sido,
Nos hiatos das grutas existenciais.