terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O Preterido

"Morreste! E era só junho para tua alma!
Ah! não devias perecer tão linda!
Tu não podias perecer ainda,
Morrendo assim tão calma!"


Da carne suja ao verso reticente,
Eu retiro a apóstrofe deficiente,
Do meu medo subordinado às memórias,
Pois sangro o presente costurando [in]glórias,

Na alma, insossa, que já não canta,
No canto, insano, que já não espanta,
O sussurro de tantas histórias mortas,
Afogado neste punhado de repetições tortas.

E, das vértebras do cadáver calado,
Abrem-se vúlvas para meu Passado,
Certamente o terror é mais que corporificado

Aqui. Pois, possui nomenclatura alva,
Da palavra que transa calejada e calva,
Eu, por fim, canibalizo meu credo. Sem ressalva.

Acabei de escrevê-lo...

domingo, 27 de dezembro de 2009

Das Novas Condições

A palíndrome execrada destes versos
É desconvexa. Alucina-[d]a-mente em berros
Propõe à antropofagia um belo trago,
Pois, do escarro ao escárnio é o que trago,

Entre-linhas tantas, costuro na garganta,
O posto sem rosto do gosto daquilo que não espanta.
E da aliteração à obliteragem, sumo na paisagem
Cinza-inóspita desta vida sem ida, a passagem

Não tem volta. Nem escolta. Só-e-mente,
Corta, repetindo o artigo descrente,
Da velha des-crença, im-pressa na aorta,
A antítese sem forma da fôrma que orna a porta,
Está exposta.

Enfim, em mim

T A L V E Z

Uma resposta. Re-posta no papel que já não é
Nada mais que um saudosismo submisso e sem fé.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Algo Sobre a Invalidez

Da cidade das sombras sem respiração,
Aos portais subterrâneos de Salomão,
A busca eterna por um motivo plausível,
Para ainda estar vivo neste mundo invisível,

Reside na escrita insípida e recuada,
Que cultivo entre a rima fria e laminada,
Na falta que julgo suja em minha insistência
À calma. Síndrome da Real não-existência,

De mais este grimório apócrifo e goético,
Vociferado na liturgia do traço poético,
Que carrego em meu corpo modesto,
Sânscrito com a antítese deste resto indigesto.

Eis, pois, da redundância patológica,
Em atrelar conjunções de pouca lógica,
À repugnância deste triste e incidente verso,
Apregoado com o advérbio sangrado ao inverso,

Eu Arquiteto um punhado de doenças sem histórias,
Findando o fim ínfimo de um brado sem glórias,
Do Silício além-humano enegrecido dos meus medos,
Ao espelho que excita os mesmos erros, sem enredos.

E assim, dedico linhas tantas somente a mim,
Afinal, eu sei que sou a catarse do meu próprio fim,
Apenas mais uma sina descrita pelo Ausente,
Impregnada, pois, na condensação do meu presente.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Aforismo

A poesia é o Oriente do Espírito.

Edgar Allan Poe




"Unthought-like thoughts that are the soul of thoughts"

Eis o mestre de "escrever aos recuos", um dos primeiros semioticistas, cada partícula de seus escritos eram arquitetadas com a aurícula da audácia, levando o signo literário ao extremo, saturando-o. Um gênio.

sábado, 19 de dezembro de 2009

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Mais Um Punhado de Versos Que Não Diz

A sinestesia entre Belial e minha escrita,
Torna a escuridão convicta e restrita,
Para a significação prévia e enforcada
Desta poesia aflita, incerta e deslocada,

Pois, a dor é sempre em primeira pessoa,
Corrobora. Do pronome oculto que ressoa
Ao dissabor repetido do Esquecimento,
Como sempre, eu escrevo sobre o detrimento

Das coisas, dos artigos, das moscas.
É reflexivo carregar pelos ombros,
As garras profícuas dos escombros,

Afinal, se até as conclusões são foscas,
A sofreguidão é apenas oca e emblemática,
Não há mais Oriente para minha condição remática.


Acabei de escrevê-lo...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Anomalia de um Verso Triste

A similitude entre a falta,
E o que machuca me assalta,
Neste mundo distante e astigmático,
Onde a verdade tem gosto monocromático,

Eu me situo na sombra da minha dor,
Para tentar olvidar, dos ossos, o odor,
De existir postumamente. Asmático e descrente,
Em notas feitas com o sangue escuro e ausente,

Da solidão que não possui mais rosto,
Apenas respiro [entre catacumbas] o gosto,
Amanhecido e incauto do desespero,
Pois trago atrofiado ao corpo o exaspero

Da derrota. Se Escrevo com a alma condensada,
-Dos nervos vazados a esta valsa condenada-
Por que faço destes artigos repetidos,
A mesma liturgia para os edemas [não] esquecidos?


Acabei de escrevê-lo...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Pequenas Considerações Sobre a Realidade

Eu visto o inverso dos meus versos
Como alguém que procura prever o próprio erro
Pois, no espelho o que há é apenas o tormento
De saber que tenho a solidão como argumento

Plausível para todo e qualquer momento, afinal
Neste inverno precoce eu sirvo de doença terminal
Às minhas veias gastas em melodias amanhecidas
E sinto a repugnância atacar minhas páginas esquecidas

Como num filme de caráter marginal.



Mais um poema que estará no livro Poemas Noturnos (no prelo).

Veemência

Sou tal qual um sonho,
Incerto e deslocado.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Mais um Poema Abortado Pelo Desconforto

Dedico à Tânatos meu testamento,
Algarismos sórdidos para o tormento,
Das Agruras que guardei na memória,
Pois sei, sou o reflexo da escória,

Que a eternidade fria corrobora,
Alimentando com restos o agora,
- Um lapso de escuridão na história,
Dos arquétipos sujos e sem dedicatória,

E é quando apenas a falha colabora,
Que Sombras batem à minha porta e,
Assombram olhares aorta a aorta,

Pungindo o medo que elabora,
Do meu peito que já não corta,
Palavras de uma língua torta,

Eu sou minha própria língua morta.