segunda-feira, 30 de maio de 2011

Das Ambivalências Congregadas

Sob a hóstia dos tormentos arde,
em destaque, este Hino Triunfal,
Da prece funérea inaugural
Ao clamor volvido sem alarde,

Eis o insípido medo elucubrado,
A escuridão visivelmente procurada,
Onde a tristeza é o demônio refratado
E a falta [...] a soleira petrificada

Do meu desejo, velho amigo exilado,
Entre naus e tentáculos, o afogado,
Estranhamente não sinto a água nos pulmões...

Dito assim, entrecolchetes, o meu afeto,
Desdenhando ambições em ângulo reto,
Pois a curva do meu coração conservo em grilhões.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sobre a Dualidade dos Meus Medos

Eu vivo sempre em próclise
Cortando a tristeza em pronome,
Da nulidade do verbo disforme
Ao meu sorriso sempre em crise,

O que reside é a espera amarelada
Pelo Outono das minhas mortes,
Um o velório para os mais fortes,
Uma diálise para a poesia ressecada,

Eis a mediação entre a melancolia
E o sangue furtivo desta elegia,
A batalha é plena pela negação,

Eu insisto neste tipo de pestilência,
Atrelando dor em minha resistência,
Apenas Behemoth e Leviatã sobreviverão.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Da Noumenalidade Metafísica

"Tua matéria é o tempo, o incessante
Tempo. Tu és todo solitário instante."

Jorge Luis Borges. O Ápice

Eis então a egrégora desossada
Esta alegoria para aqueles que não são
Que não fulguram sem a procissão
Hermética da moral esfaqueada

Desta liturgia nula, de tempo necromante
O romance dos olhos mortos engana
Numa espécie de fuga sem membrana
Afinal, a solitude respira em meu instante

E eu a estanco em mim, proferindo
Novamente a profilaxia dos vencidos
A rendição de todos os encontros amanhecidos.
E a mágoa com sua foice segue sorrindo...

Eu vivo sempre entre a apóstrofe
Desta eloqüência mal digerida
Pois que a falta [aqui] se faz erigida
Neste monumento dedicado à catástrofe.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Caosmogonia Estrutural

A metalinguagem da dor é ocre
No reino da catalepsia refratada
Onde a insuficiência é arqueada
E as falhas pedem algo que enforque

Os súcubos da linguagem Ocidental
Esta espécie de existência paralela
Que destoa a marginalidade e esfacela
Mil Cérberos [rendidos] na noite neuronal

Prometeu e o fogo ardilosamente esquecido
Sereias mutiladas e o que poderia ter sido
A herança árabe não nos torna imunes...

À falência mimética da convivência
Esta Pandora anêmica e sem proeminência
Pois aqui somos todos párias impunes.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Ditirambo Para Um Ritual Esquecido

O sarcófago de Anúbis é pleno
Neste meu caminho mal traçado,
Da serpente que desordena o passado
Ao caos concatenadamente terreno,

Águas negras, o ataúde, a traição,
Osíris e a vingança que não vem,
Eis a memória que não convém:
Aspirar ao submundo em ascensão.

Quando a liturgia necrófaga do deserto
É a purificação vista de perto
Não há metalepse que conforte,

Pois eu sou a sombra cadavérica,
O ódio fustigado em teia esférica,
A eternidade conjurada à má sorte.