domingo, 25 de dezembro de 2011

Incomprehensibilis

"Que autores
então
há de ler essa classe?"

Vladímir Maiakóvski


Abandonei minhas defesas
procurando me afastar
deste sopro sem ar
destas vozes acesas

em minha angústia.
A ferida corrobora
e coagula, embora
ainda sem astúcia

renuncie ao trauma
de ser incompreensível
para o ser consumível
e sem alma.

Assim passo despercebido
pela via atávica
ávida e esporádica
do gesto reexibido.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Elegia Para O Desencontro

Frente à catarse, o ósculo,
Esta anomalia em interstício,
Que repete o esotérico vício:
Dialogar com os ossos de Próculo.

Da astrologia do desgosto
Ao retorno do que nunca esteve,
A virtude foi quem obteve
Da melopéia o gesto transposto,

Neste mortuário não há espera,
Os grandes feitos são invertidos,
A catástrofe masturba os fenecidos;
Cada ejaculação necrófaga opera

A filia dos íncubos exponenciais,
Que admoestam o desprazimento
Deste Ser, parco e em detrimento,
À Ishtar e seus manejos babiloniais.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O Caminho Abissal

As vozes do sótão abalam
As minhas entranhas conflitivas,
Afrouxando as amarras remissivas
Das intermitências que não calam

O umbral cotejado pelo abismo,
Assombroso abismo que figura
Entre a falta e a cissura,
Transformado em puro pessimismo,

Do verso que é verme
Ao verme que é verso,
Neste inferno estou imerso
Com o mesmo sorriso inerme.

A minha existência é afásica,
Entre o acerto módico
E o soluço claustrofóbico,
Estou além da causa torácica.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Desfecho Inexistente

"Quem sabe, alma, se o que ainda não existe
Não vibra em gérmen no agregado triste
Da síntese sombria do meu Ser?!"

Augusto dos Anjos


A liturgia do desamparo é fatídica
No já fatídico Ser em que opero,
Eu existo e não prospero
Além desta lápide raquítica,

Da noite nebulosa -sempre em clausura-
Ao retiro das navalhas amolecidas,
A minha índole segue estas feridas,
Sem aptidão, sem cor e em desventura,

Tenho, então, um ossuário como protagonista,
Quando a anomalia é a antagonista
Do sorriso que minha paz não tem,

A tragicidade deste comício é absurda,
Não há ninguém que afaste ou aturda
A véspera da melhora que não vem.