segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A Indigestão de Cronos

E restaram apenas as larvas funcionais
Que monitoram a dor daquele trauma,
A inaptidão vazada transforma a calma
Em feições túrgidas corrompidamente espectrais,

Para o futuro que amanhece desperdiçado,
Um sorriso com ar de atraso em expansão,
Escondendo do torpor o escarro embalsamado,
As minhas catacumbas não escapam da condenação;

O verso concatenado entre a obscura vontade
E o peso incólume do que chamo de distância,
Assim, encontro-me atônito frente à hiância,
Frente ao estrago rente que produz saudade,

E com discreta verossimilhança eu me apago,
- O traço recombinante não mais conforta,
A maldita dicção da vida tem olhar gago
À inflexão recorrente que culmina e exorta,

Um punhado de sonhos desmembrados em melodia,
Colhidos no Hades, entre o castigo de Tântalo,
A morte dança tácita, exalando o sândalo,
De Perséfone que chora lágrimas de afasia,

Todavia, o meu caminho é apenas sanguinolento,
Entre corvos e corpos fálicos e sem plenitude,
Meu Orfeu é rouco, vazio e sem intento...
Segue enforcado decifrando o que não pude.

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