segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O Aviltamento do Verso

Eu abraço a escuridão que me acompanha
Numa espécie estranha de simbiose carnal,
Quando não acontecer torna-se apelo factual,
O espasmo vertido em silêncio é a façanha,

E a dor prossegue. Ela e sua foice aterradora,
Assim, inocentemente, para não deixar escolha,
Proclamo minha morada no adubo desta masmorra
Existencial. Afinal a minha salvação é caolha,

Permanece incólume perante o sorriso da vida,
Entre o hiato adverbial desta condição sofrida
E a compilação dos [meus] anseios que restaram,

É, pois, o fim da minha lírica muito justo,
Celebrar as hordas longitudinais de Augusto,
Cerebrando a eficiência do Malleus Maleficarum.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Quando os Espectros Machucam A Carne

Talvez eu pudesse nunca ter sido
esta injúria penosa que fui,
todavia, é o olvido que flui,
enquanto o peito segue amortecido,

Ai! os signos que não acontecem,
e a voz maldita, esta segue ascendida
entre não ser mais que a dor escondida
e estes medos que não me esquecem.

Outrossim, a Peste continua recordando
que sou seu túmulo, seu meio e seu consolo,
pois ainda alimento o mesmo sonho tolo
de ser bem-vindo mesmo que regurgitando

a minha solidão ofensivamente não expirada.
Eu termino repetindo a insuficiência
numa espécie de mórbida clarividência,
pois carrego [ainda] aquela consoante mal arada.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Primaveras Mortas

Pelos umbrais da decadência
Ergo, Eu, a minha pequenez:
"Insalubridade agora é sua vez
De coexistir sem reminiscência",

Pois o corte em meu instante
É a mortalha que recobre,
Cada ausência que percorre
Este eterno obstante,

Assim sigo, sabotando minhas chances;
"Espero que tu não te canses
Deste meu glaucoma sentimental"

Afinal, propago um gosto falsificado,
Pois não supero o peito fracassado.
- Sou apenas um solstício lacrimal.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Incompreensível (Como Tantos Outros)

A minha solidão é corrosiva,
Corrompe a carne a cada injunção
Destas centúrias mortas em procissão,
Pois que minha cegueira é abrasiva,

Quando o sibilo aprazível não vem
E o indizível postula um não-querer,
O ritmo do meu verso é autofágicoser,
Traz a Peste e torna a lástima aquém,

Assim, a tortuosidade faz sua morada,
E eu acabo por repetir a con-dicção malograda
De apenas assistir enquanto me consumo.

Cada nova icterícia poética que promulgo
Propõe as mesmas bilirrubinas sem vulgo,
Pois atesto o fracasso com mais este insumo.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Escrita Inferior

Os meus versos são o preâmbulo
Para a discórdia que há entre
Os dias, as escamas e o ventre
Da verdade deste pacto sonâmbulo,

Se eu pudesse, fugiria das mil elegias
Que me elegem, tornando-me metalepse
De tudo aquilo que corrói e emudece
Este lirismo cansado de tantas alergias,

Quando a maldição não possui um nome,
O comboio para a dor segue conforme
Os novecentos e noventa e nove infernos,

Pois aqui a insígnia da alegria não figura.
O que me resta, senão As Montanhas da Loucura
E toda ancestralidade dos gelos eternos?


Primeiro poema do ano.