quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A Metástase Lacrimal

Do refúgio ao ossuário,
A sina ainda assola,
Tento desvencilhar sua barcarola
Burlando o Caronte diário,

O luto dos ideais faz
A manhã sem humanidade,
Quando caminho à obscuridade
Busco a [sua] foice audaz,

Afora esta languidez insípida,
O que move a ríspida
Nitidez da vida é

A escuridão dos [f]atos,
Pois somos apenas ratos
Habitando este esgoto sem fé.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O Quiasma da Existência

A insignificância é o abrasivo
Gesto que desloca este corrosivo
E inapto desvio sem certidão,
Quando me falta o entusiasmo,
A vida transmuta-se em pleonasmo
E a vertigem segue em ascensão,

Dos adínatons brutos e ensimesmados
Que denunciam grimórios tantos conjurados,
A fala é falta em usura,
É sombra, é sobra rústica
Daquilo que perfaz a acústica
Da alma oca que fulgura

A mística dos não afetos.
Catacumbas glaciais e insetos
São meus solares, meus companheiros
Nesta dança lenta de nevoeiros
Que ritualiza o olvido misantrópico:
Vinte e seis anos e o sorriso é utópico.

O corte é malogrado e gasto,
Tal qual a lâmina do nefasto
Instrumento que adentra a carcaça
Já cansada de ser imolada
Por esta operação desgraçada
De sangrar a carne que ultrapassa

Os ditames íntimos da bestialidade,
Dos flagelos surrados desta animosidade,
Retiro as entranhas para o edital
Do vazio não anunciado e espectral,
Assim adéquo o reflexo ao erro,
Pois, no peito há o enterro

Dos meus Hecatônquiros antitéticos
Que não resguardam os apoplécticos
Restos de meu Tártaro esquálido,
Que se encontra entre o inválido
Verso invertido e o obituário.
Eu não existo. Eis meu calvário.

sábado, 15 de outubro de 2011

Ruínas Vespertinas

O evangelho da podridão concatena
Este relicário repleto de tristeza,
Fazendo da ânsia a destreza,
O desastre que escancara e acena

Para A Noite dos Antepassados,
Mais uma forma rude de narrar
O desafeto de ser e não estar.
O sacrifício é para os iniciados

Nos mistérios da Ordem do Fim,
As minhas carnes são oferecidas, enfim,
Este é o preço da autofagia.

E a tarde segue seu Holocausto,
A tragédia tem o sabor do exausto
Gesto lúgubre de escrever sem assepsia.

domingo, 9 de outubro de 2011

A Escuridão Preterida

"Ninguém é alguém, um único homem imortal é todos os homens. Como Cornélio Agrippa, sou deus, sou herói, sou filósofo, sou demônio e sou mundo, o que é uma cansativa maneira de dizer que não sou."
Jorge Luis Borges

Sob as ruínas da maldição presbítera
Que concatena o hiato de Cronos,
Escrevo sobre o que não somos:
A plenitude, a lápide, a cítara,

Das sílabas fugídias e sem termos
Às lamúrias que precedem o irrestrito
Gesto aquarelado de arquear o detrito
Existencial que nesta noite dormiremos,

A histologia do fracasso é premissa,
Pois não atenua a busca pelo vicejo
Versificado na cromatólise do ensejo,
Talvez tenhamos perdido a via abscissa

Do Tempo que consome e segue ileso.
Conjuramos, afinal, o Tártaro pelo medo
Das sombras sem catacumbas deste enredo;
A solitude é fuga para o menosprezo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Algo [Não] Muito Vago

A escuridão ávida
em meus versos
arde
e esta pena
não sente pena
de mim

Outrossim
a flexibilidade
verte
a dimensão
dos meus medos
e veste
com aflição
os enredos

da impossibilidade
aliada
a esta dicotômica
nulidade
de ser não sendo

pois não há
oração que pague
e apague
a intenção crônica
desta pena
que não sente pena
e cumpre a pena
e arde

esta pena arde
e dita
a cena
sem alarde

afinal
já é habitual;
pelas vias do desespero
costuma-se morrer
muito bem
pela tarde.