domingo, 28 de março de 2010

Sobre o Vaso Morto na Janela

O aborto que há entre meu ser
E as hordas drásticas da exasperação,
Conduzem esta enfática catarse de entreter
O que falta, ramificado e em condensação,

Entre o pântano das lágrimas esquecidas
E a vertigem destas linhas furtivas,
Eu sigo vomitando histórias adormecidas
Pela memória residual de tantas almas esquivas,

Do cheiro de morte que há em meu bosque
Aos cravos secos da minha sorte,
Eu procuro algum nervo que não enrosque
Em meu peito, e que não mais corte

A minha essência que já é dilacerada,
Adornada com o caos da Tristeza sem martírio.
Para Esta dor que não consegue ser cauterizada
Eu dedico somente aquele velho lírio...
[que um dia indicou a tua presença]

terça-feira, 23 de março de 2010

Entre as Frestas

O semblante corrosivo da finitude,
Marca a arca sem plenitude,
Destes espinhos de alegria desviada,
Onde a procura é imprópria e vazada

Da integridade inócua e incisiva
A ilusão que descolore a vida,
A solidão torna-se permissiva,
Pois tenta esquecer e não é esquecida,

Na descida aos escombros do meu final,
A doença da escrita é o terminal,
Onde o insalubre dialoga com as bestas,

E do descontentamento que perfila o meu tema,
Prolifero mais uma decepção como esquema,
Empilhando todas as agruras [minhas] em algumas cestas...

sábado, 20 de março de 2010

A Doença do Verso Visceral

O Sabbath negro da minha literatura
É articulado com a própria estrutura,
Daquilo que tive e assassinei,
Lágrimas e lâminas onde eu fracassei,

Da ruptura do nervo panóptico axial
Aos meus rumores sem entonação,
Eu busco a fuga deste olhar especial,
Pois, o que escrevo é a profanação

Vertiginal de um cemitério sem velório,
A cromatização do sorriso ilusório,
São tantos os instantes envenenados
Que, meus mortos não passam de renegados,

Quando o fim é somente um ritual não conjurado
Para a rispidez infinita em meu ser,
Estes versos representam o que não foi curado,
Pois são apenas cortes daquilo que não posso ter.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Comum Entre as Cousas

Por cada pétala derramada no deleite
Da cumplicidade
Faltou-me franqueza
Pois é assim que se sente
A verdade em cada respaldo
Que a chuva nos traz

Um dia quem sabe
Poderei eu, pedaço de carne póstumo
E adjacente, discernir entre
O comumente e o vagaroso
Como numa dança impura
Vertida de dor,
Desvencilhar o esparso
Em notas feitas de algodão?

Poema escrito há algum tempo, não lembro quando.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sociopata Monaural

Silenciei meus sonhos
Para tornar minha existência
Mais oculta o possível
Assim, o sacrifício
É a aspiração
Que mutila meus membros
E o coração
é passageiro
E, por ora eu quero apenas uma canção
Que canse toda estação
Que pare o meu mundo
Apenas por instantes,

Eu desqualifico a sorte.

Poema antigo, escrito no começo de 2009.

sábado, 13 de março de 2010

A Dialética dos Defuntos

A prisão que congrego é histérica,
Da angústia ao repúdio Trimegisto,
São três os registros desta decadência esférica;
A aflição, as neuronas e o credo que insisto

Em postular, não existindo além do esqueleto,
Além do cântico escuro, esquisito e obsoleto,
Que, ao passo dos anos, assisto postergar
Minha inaptidão para seguir o caminho solar,

Do silêncio sem alma ao dilema em ascensão,
A estrita dor do verso é restrita à extensão
Simbólica, do que nego, aos uivos, à noite,
Pois sei da verdade que há em cada açoite

Poético, da profecia daquilo que não compõe
As tonalidades sujas do medo vertido,
O que proponho é um sorriso derretido
Pra cada hora rendida que a falta impõe.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Uma Canção Para o Andarilho sem Sombra

A unificação do vazio vascularizado
Em minhas crenças empilhadas,
Derrama o medo irto-polarizado,
Nas verdades insolutas entalhadas,

Deste Histrionismo que congrego como vida,
Um labirinto hediondo e sem saída,
Constituído da mortalha antropomórfica,
Que funestamente declama a voz catastrófica,

Da minha razão turva, com rouquidão,
Entre a noite cortante e a ilusão,
Eu sigo apagando meus próprios sorrisos,
De lápide em lápide encontrando os mesmos avisos:

"Saibas, poeta, a serpente verte teu veneno vil,
Naqueles que descobrem a insalubridade do teu covil,
Pois, desnudar o sangue que abarrota teu esconderijo,
Não proporciona [a ela] nada mais que um belo regozijo"

E assim sigo consumido pelo ostracismo,
Da paz sutil deste débil relativismo
Aos atos esquecidos em minha Golgotha...
Em meu caminho há apenas cadáveres em volta.

sábado, 6 de março de 2010

Da Apatia Enfática

A minha felicidade é ossiculada
Pelos símbolos de Odin em ruínas,
Do ruído dos sacrifícios nestas esquinas,
Sou, pois, a disformidade articulada,

Da descrença nestas páginas adormecidas,
Pela pele carrego as marcas entristecidas
Do externado Negativismo Existencial,
Onde a apatia é apenas uma canção diferencial,

Sob a folhagem esférica da vida,
É sempre pela ausência a minha ida
Aos íntimos cortes, sem ferida, da Minha História
Desnuda, deslocadamente interpretativa e sem Glória

Alguma. Um signo falho escrito com o plasma ausente
Da alma, do abraço falho, da calma intermitente,
Eu sempre corro contra o Passado, todavia,
Suas lâminas ainda machucam o pouco de carne que havia

Neste......................................receptáculo.
- Por fim, deus está morto. Que comece o espetáculo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ditirambo Para a Saudade e Seus Erros

Da legião dos meus demônios congregados
A este exorcismo indevido e sem comunhão,
Propago um obscuro mundo de poemas estragados,
Para a Ausência que me corta com precisão,

É nesta analogia fria que vomito meu leito,
O pleonasmo dolorido aplaca qualquer feito
Pois sou análogo à cor de todas as cores,
Sigo ramificado e sem odor nestas flores

Maquiavelicamente estéreis, e não há liturgia,
Não há sinergia que aplaque tal cirurgia,
Em meu peito trago o vazio avulso em curso,

Devidamente fortificado nesta forca verborrágica,
A força negra da minha catacumba é trágica,
Propicia altivez ao regresso impuro do meu discurso.

segunda-feira, 1 de março de 2010

A Dor Vespertina

"Sua vontade era como a folha de um punhal: ferir ou estalar"
Álvares de Azevedo

Tal qual uma biblioteca falecida,
A minha existência é enegrecida
Pela memória arrancada do peito,
Quando a fobia atesta o conceito,

De dias áridos e sem euforia,
Destinados à heresia da Vontade,
Que deflagra a ambivalência sem idade,
Da epifania desmedida pela sangria,

Deste punhado de erros em comunhão,
Com minhas entranhas atiradas pelo chão,
Eu aceito a animosidade do corte ficcional,

Na minha realidade lúgubre e sem estrutura,
Onde a fórmula repete a má formação da ossatura,
Conjecturando mais esta liturgia dolorida e passional.