quarta-feira, 26 de maio de 2010

Um Sussurro nas Trevas. Uma Pequena Homenagem

A inominalidade dos Antigos é aterradora,
Das cidades esquecidas ante a lama abissal,
Aos cânticos entrantes desta forma anormal,
A noite vociferante gela a carne sofredora

Pois, a realidade descontínua desta dimensão,
Diz pouco do gole rouco da inumana extensão
Que carrego pelos poros, seco e envenenado.
E assim prossigo com o discurso abandonado,

Criptas viscosas gritam pela eternidade:
Cthulhu! Cthulhu! Cthulhu! A paura que não têm idade!
Apenas carrego O Vento Frio atrelando na alma

A máscara da Morte crua e erradica,
Pois, a ciclotimia é a benção esporádica,
Para cada hora suja que vomito no meu trauma.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Pequena Elegia Para a Garota Morta

Eu busco a plenitude
em goles de pouca virtude
refém da harmonia destes espinhos
da métrica e de seus pesares mesquinhos
tento atrelar, osso a osso
este caminho frio rumo ao poço
da versatilidade sem extensão
a estes pronomes em ascensão
eu respiro sujo e malogrado
todas as teorias de bom grado
que retiro das minhas retinas
pois estas servem de cortinas
para o semblante caótico da perda.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Pequeno Tratado das Grandes Tristezas

Eu quis dizer o que não pude
naquela ocasião insípida e degolada
dos meus dias eu não pude...
desvencilhar o gosto exausto da solidão
pois eu não pude
com os retalhos do seu Nome
e, amiúde, eu me esqueci conforme
as horas mortas cortavam sonhos
e eu não pude com estes tristonhos
pesares, pedantes, pegadas no instante
do orvalho conflitante, o sorriso análogo
é concomitante com as veias, sem diálogo
militante, pois,
verbalizo os rios do meu coração
sem risos, que mora em qualquer estação.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Conjectura da Falha

Eu sinto nos ossos a tempestade impetuosa
Que aplaca este ínfimo nervo ausente
Descrito pela ávida hagiografia tortuosa
Das minhas dores de caráter cru e crescente

Pois, o aromático sangue é amaldiçoado
Pela respiração pavorosa da Besta de Creta,
Será que esta obliterante cripta ereta
É a única maneira de sacrificar meu Passado?

Afinal, eu sigo o caminho invertido de Teseu
Costurando na esperança o monstro que faleceu...
Velas negras para quem dissolveu junto ao mar.

Da des-esperança que amalgama tantas agonias
A estrutura oxidada das minhas sinfonias
Eu sou sempre a inexorável Derrota a caminhar
[com terra úmida entre as botas...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Não Há Abrigo Entre As Ruas Mortas

O gole negro desce aflito,
Gritando a insatisfação que insisto
Em afirmar a cada passo ossiculado
Desta solidão que figura meu postulado,

Lado a lado eu sinto o açoite
Da Verdade pudica desta noite,
Pois, tristemente canto a imensidão
Destes cortes com a destreza de um artesão,

E o meu fim é apenas o sumário,
Da falta, do ensejo residuário,
Afinal, são tantas mortes a postergar...

Da vontade surda que diz pouco
Ao verbo torto que adoece rouco,
São imensas as insatisfações a brindar!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Uma Canção Para Aquilo Que Não Existe

Não sei por que insisto
No outono dos meus sonhos,
Certamente eu não existo,
Além destes credos enfadonhos,

Do predicado que não canta
Ao espectro que não espanta,
O meu caminho é dilacerado,
Pelo sorriso tênue vociferado,

Nesta escrita sem métrica, trágica,
Onde a lepra é estrito-verborrágica,
A saudade dá vazão às suas chagas,
Ante o incólume do vazio e suas pragas,

Que traçam o traço atrasado
Daquilo que nego fracassado.
Eis, pois, a po-ética decomposta,
Nesta aética, feito fratura exposta.

domingo, 9 de maio de 2010

Sob o Signo da Ausência

Eu canto o que não vale ser cantado,
Arrancando da retina o estigma do Passado,
Entre a sintomática ausência exorcizada,
E o grito falso da noite não cicatrizada,

Verbalizando o medo que causa a incerteza,
Eu sigo corroído por este teorema repetido,
A mesma liturgia, a mesma ferida na destreza,
Atestando o meu caminho sórdido e dolorido,

São tantas vozes mortas em meu leito,
São tantos caminhos algozes neste pleito,
Que... Falta-me destreza pela alma em procissão,

Da cripta inerte ao vácuo deste sorriso,
O fragmento de mim mesmo é o que preciso,
Pois, sei que a incompletude fita-me com precisão.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A Dança dos Pronomes Necrófagos

A irredutível posição deste mundo
Afoga meu esqueleto infecundo
Da impossibilidade de suturar a falha
Ao verbo dissolvido nesta mortalha

O segredo entoado presta conta à derrota
Dá corpo ao ritmo morto que abarrota
Este pizzicato lânguido e intravenoso
Concatenado a cada pesadelo viscoso

Que atribuo a este mau cheiro poético
De caráter dissolvido e tom profético
Aquém da esperança, em plena decomposição

Com este assassinato de mil Dionísios
Trocando versos pelo ardor dos Campos Elíseos
Pois, nestas veias corre a prosódia da imperfeição.