sexta-feira, 30 de abril de 2010

Introspectivo, Demasiado Introspectivo II

A sinonímia que insufla o meu cemitério,
Insulta o seminário afônico e desfigurado
Que carrego neste vernáculo sem critério,
De caráter arrítmico e laboriosamente suturado,

Do postulado A-sígnico refratado a vácuo
Ao sangue vertido, o abrigo é inócuo,
Pois, a frustração dilacera o que lhe convém;
Eis a reflexão que grita nestas linhas. Indo além,

Assim sigo alternado de erro em erro,
Do sangue negro que condecora este enterro
A incerteza que conjura minha poética da ingratidão,

Eu declamo a pleno pulmão minha monstruosidade,
Pois, é sabido que a Dor não tem idade,
Afinal, o mimetismo das horas morre [sempre] de inanição.

domingo, 25 de abril de 2010

Autofagia

"E eu, somente eu, hei de ficar trancado
Na noite aterradora de mim mesmo!"
Augusto dos Anjos. Trevas

A minha escuridão é plena e ilustrada,
Figura as marcas da razão desidratada,
Deste animismo opaco e oblíquo ao desatino
Que vela a melodia destrutiva do meu destino,

A compulsão é o fracasso que carrego eloqüente,
Da esperança tácita que transpiro descrente
Ao bosque negro que dá forma a esta ausência
Em meus sonhos, o corte é a ordem da ambivalência,

E uma vez mais sinto a velha posse postergar,
As melodias que, com pus, insistem em apregoar,
Desgraças lúdicas em meus passos desconfigurados,

Pois o mesmo fantasma rompe a noite vencida
Recitando esta sina que já floresce amanhecida,
Eu congrego a romaria de todos demonios amargurados.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O Corvo e A Lâmina

Eu canto aquilo que não pude,
Esperando aquilo que não vem,
Do rosto olvidado que convém,
A este convi-ví-cio sem virtude,

O resigno ao meu sepulcro é entoado,
Sangra o cântico categórico do Passado,
Eis a velha liturgia da letargia malograda,
Os mesmos edemas, a mesma via desgraçada,

Para o medo que não afasta esta falha,
Para o abrigo das minhas pragas em mortalha,
Quando a ausência congrega-se fazendo comunhão,

É, pois, o fracasso afiado e insistente,
Que na minha súplica medíocre e descrente,
Reitera a incompletude apenas por diversão.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Da Ausência

O contraponto da sodomia em meu ser
Diz pouco sobre esta nosografia poética,
Da sintaxe coercivamente afonética
A degradação [sugestiva] que decidi escolher,

É, pois, a hifemia deste pergaminho esquecido
Que verbaliza a exaustão que há em meu tecido,
Tacitamente aflito pela falta primeva,
Eis a mortificação que meu Nome leva,

Do desejo petrificado ao demônio da perversão,
A minha derrota fica além da intenção,
Além do repetido pronome em meu instinto,

E é quando eu interrogo a inexorabilidade plena
Do meu desatino que o destino entra em cena,
Assassinando com veemência aquilo que sinto.

domingo, 4 de abril de 2010

A Ressurreição que Não Acontece

A esperança sem ritmo corre amarelada,
Em meus ossos tortos de escrita desfigurada,
Da apatia que indica um simbolismo sem plenário,
A transfiguração que carrego [só] neste vestuário,

Sobras de um assombro que dissolve,
Hora por hora, este cadáver e não se envolve,
Com a volúpia dos meus gritos de cavidade oca,
Com a frialdade escura e imaculada desta boca,

Pois, do receptáculo de carne enfraquecida,
Ao fracasso destas teorias, o eternamente fica embalsamado,
Sem odor, ausente e devidamente não consumado,
Afinal, sou a catacrese da ferida não esquecida,

Que figura perplexamente na escuridão,
Do vazio que trago costurado à minha súplica,
A minha proposta certamente não possui muita exatidão,
Pois concorro sempre com a sombra da minha rúbrica.